terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Veneno

Ouço o riso sarcástico da morte
Vejo seus olhos fumegantes
Lamento minha infeliz sorte
E carrego meu ser errante

Minha'lma sofre, abandonada
Presa está num lar vazio
A carne treme, apavorada
Reflexo do vento frio

O vento da separação
Que a alma da carne desprende
Chorar agora é em vão
E o véu da noite surpreende

Sinto a vida se esvair
E a morte, mordaz, vibra
E eu desfaleço aos poucos
Na presença desta víbora

Sinto o veneno correr
E ao meu sangue se juntar
O enlace do meu morrer
A aliança do meu pesar

Fecho os olhos, estou partindo
O veneno borbulha,
Estou sentindo
A morte ri, estou ouvindo

De súbito, acendo o olhar
A morte ruge, inconformada
Range os dentes ao se afastar
E eu respiro, aliviada
Sinto a vida de novo pulsar
A morte não levará nada

O veneno não foi bastante
Agradeço com uma prece
E levanto, sigo adiante
O que não me mata
Me fortalece

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Os mistérios do amor

Há beleza na escuridão
Na tristeza de uma saudade
No vazio da lembrança de algo que nunca tivemos,
Mas sentimos falta.
A beleza vem do amor
Sentimento traiçoeiro,
Mas que causa calor...
Ele desperta em nós as sensações mais profundas,
Faz o coração pulsar com mais intensidade...
Mas também nos joga num abismo de dor, de falta, de indecisões.
Ele representa tudo de ruim e de bom em nossas vidas
Sua beleza é misteriosa
Está sob um véu que,
Embora possamos removê-lo,
Temos medo da descoberta.
Porém, se a coragem nos domina
Corremos o risco do desconhecido
E até podemos experimentar a felicidade.
Ah... Sentimento cruel, sádico...
Ah... Sentimento lindo, grandioso...
Até a dor que ele traz tem um "Q" de mistério
E os pecados cometidos em nome dele não são banais.
O amor queima
Como o vinho que desce pela garganta
E acende o coração.
É o fogo que fere, que marca...
Sim, o amor, seja ele representado de qualquer maneira
É capaz de marcar toda uma vida
Ah.. amor... quem descobrirá seus mistérios?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Queres saber quem sou?


Queres saber quem sou?
No oceano do meu coração
Guardo meus segredos
Muitos se perderam
Tentando me decifrar
Minha alma é doce, sensível
Meu sutil olhar pode te enfeitiçar
Quem mergulha em minhas águas
Se encanta com meus encantos
Sou menina, sou mulher
Qualquer coração quebranto
Preciso da proteção que acalenta
Do carinho que esquenta
E da base que me sustenta
Não mantenho os pés no chão
Sonhar nunca é em vão
E a insensibilidade me atormenta
Sofro, choro
Clamo, imploro
Derreto-me e derreto-te
Me apego, o amor me traz alegria
Mas posso ser escorregadia
Se não segurares forte minha mão
Tenho pensamentos insanos
Tenho pensamentos medonhos,
Só não pises em meus sonhos
Apresentando-me só razão
Já sabes quem eu sou?
Sou mulher de peixes
Sou emoção!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sonho ou realidade?

Em passos leves, quase que flutuantes, adentrei o castelo. Castiçais dourados e cortinas vermelhas faziam parte da decoração do salão principal. Ouvi uma música suave e automaticamente fui levada pelo som, até deparar-me com uma sala sombria, luxuosa e misteriosa. Não entrei. Contentei-me em apreciar a melodia por detrás da porta, temendo uma aproximação maior. Com os olhos fixos em apenas uma fresta, pude ver um distinto homem ao piano. A postura digna de um lord e a habilidade com que seus dedos passeavam pelas teclas do instrumento, despertaram em mim uma admiração hipnotizante. Aquela música me chamava e, sentindo-a invadir cada pedaço do meu ser, fechei os olhos e me deixei levar, sem medo. Ao abrir os olhos, me dei conta que estava no meio da sala, dançando. Senti-me envergonhada por um momento e decidi sair antes de ser notada pelo misterioso homem mas, ao recuar o primeiro passo, fui surpreendida pela voz mais majestosa que já tinha ouvido.

“Fique exatamente onde está!”

Um frio extremo invadiu o local e eu, mesmo se quisesse, não conseguiria mover um músculo sequer. Ele, por sua vez, levantou-se e foi se aproximando devagar, com os olhos fixos em mim. Um medo estranho foi tomando conta da minha alma e o estado de transe em que eu me encontrava, fazia de mim prisioneira daquele momento.

Ao chegar bem perto de mim, ele estendeu uma das mãos, convidando-me para dançar. Percebi, então, que a música continuava, mesmo depois dele ter se levantado do piano. Aceitei o convite, embora estivesse dominada pelo medo. Os olhos dele eram vermelhos e hipnotizantes. Sua pele era fria como o gelo, mas seu toque de alguma forma me acalentava suavemente. Aos poucos fui relaxando e, à medida que ele me conduzia pelo salão, fui sentindo-me leve como uma pluma ao vento. Fechei os olhos e pude sentir meu corpo flutuar. Tudo parecia mágico, irreal, encantado... e eu estava adorando cada sensação proporcionada.

Sem dúvida aquele era o momento mais sublime da minha vida e, por um instante, eu desejei do fundo da minha alma que ele fosse eterno. Fechei os olhos, numa entrega total e, naquele mesmo instante, senti toda energia do meu corpo sendo sugada. Não desfaleci completamente, mas fiquei tão fraca que mal podia suportar o peso do meu próprio corpo. Era como se o corpo estivesse morto, mas a alma estivesse ali, vendo tudo de fora. Ele me conduziu em seus braços até uma espécie de sofá que havia naquela sala. Ficou me olhando durante um tempo e depois beijou-me o rosto, acariciando-o. Em seguida, se afastou deixando uma rosa negra ao meu lado. Eu queria poder reagir e dar um sorriso em agradecimento, mas não consegui. Ele foi se afastando aos poucos e eu fui caindo em sono profundo.

Não sei quanto tempo dormi, mas acordei num sofá velho, numa sala empoeirada, cheia de móveis antigos cobertos por lençóis. Ao final da sala, um piano descoberto chamou a minha atenção. Antes de me levantar, notei que ao meu lado havia uma linda rosa negra. Dei um singelo sorriso e saí pela porta, carregando comigo a rosa.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Calabouço da Alma




Escrevo do mais profundo calabouço da minha alma
Onde pensamentos perdidos vivem a assombrar meu ser
E, passeando por esse abismo do qual sigo cativa,
Nada encontro além de um vazio constante.
Sinto-me temporariamente sem inspiração
Amordaçada pelo pudor
Algemada pela dor e pela angústia
De buscar um “não sei o que” perdido
E, na escuridão da masmorra, sinto que enfrentarei a maior luta da minha existência
Travarei uma batalha contra minha própria natureza
E, na ausência de forças para resistir,
Certamente sucumbirei
E minha face humana cairá de joelhos perante minha face sombria
Abdicando a própria natureza
E, quem sabe assim, encontrarei a verdadeira essência
De ser, de fato, invencível.