sábado, 27 de fevereiro de 2010

Darkness IX - Amor Eterno


Na noite seguinte, Sara saiu novamente pela floresta a fim de encontrar Herus. Não podia mais ficar um segundo longe de seu amor e, embora já tivesse sido advertida dos perigos da floresta, não tinha o menor medo de sair a procurá-lo. Foi andando devagar por entre as árvores até encontrá-lo solitário e pensativo recostado em uma delas.
- Herus!
- Sara! O que faz aqui?
- Estava te procurando, pois senti saudades.
- Já falei que não deveria andar sozinha pela floresta.
- Não tenho medo, meu amor. Quando se trata deste amor que sinto por você, sinto-me forte para enfrentar qualquer coisa, inclusive os perigos da floresta.
Herus deu um sorriso triste e acariciou suavemente o rosto de sua amada e, em seguida, deu-lhe um abraço forte. Ao afastar-se do abraço, ainda segurando suas mãos, ele disse:
- Querida, fico contente em saber que és corajosa, mas sinto dizer que está chegando minha hora.
- Como assim, meu amor? - perguntou desnorteada.
- Preciso seguir rumo à minha condenação e, para isso, terei que te deixar. Mas não ficará desamparada, pois o Ser que está acima de mim cuidará de você e lhe ensinará tudo o que precisa aprender nesta sua nova fase.
- Não estou gostando desta conversa. Que tipo de condenação é esta? - Sara perguntou começando a derramar lágrimas pelo rosto.
- Sara, eu sou um anjo e fui designado para te proteger, te guardar e te dar uma nova vida, caso você aceitasse morrer para tudo que existisse antes. Acho que cumpri bem o meu papel, porém cometi o maior erro que uma criatura como eu poderia cometer. Eu me apaixonei por você.
- Você não poderia se apaixonar por mim?
- De forma alguma, querida. Eu sempre pude todas as coisas, sempre tive muito poder em minhas mãos, porém jamais poderia ter tocado meus frios lábios nos lábios ainda quentes de minha protegida.
- Então quer dizer que você é um anjo e não um vampiro?
- Sim, eu não sou um vampiro. Sou Herus, o Anjo das Trevas. E não se preocupe, meu amor, pois você não se transformou numa vampira, embora faça parte do mundo obscuro dos anjos da escuridão agora.
- E qual será seu castigo por ter me beijado?
- Fui condenado a passar a eternidade no Vale das Sombras, o único lugar que nós, os imortais, tememos.
Sara o abraçou bem forte, chorando. Não queria largá-lo de forma alguma e, ao mesmo tempo que sentia uma dor enorme no peito por ter que se separar do seu amado, tinha raiva dele.
- Herus, se você sabia que receberia este tipo de castigo por me beijar, por que deixou que acontecesse? Você poderia ter evitado!
- Meu amor, eu prefiro ficar sozinho num vale sombrio por toda a eternidade do que ter que viver eternamente sem ter você pelo menos por uma vez. Beijar você, tocar você e sentir este amor tão puro vale mais do que qualquer coisa e, se o preço a pagar é tal condenação, que seja. Pelo menos cada dia solitário que irei passar naquele vale eu me lembrarei de ti e do quanto este amor valeu a pena.
Sara baixou a cabeça e pareceu entender que tudo realmente tinha valido a pena. Abraçou novamente seu amado numa despedida dolorosa e emocionante. Ao afastar-se, pôde ver a capa preta dele caindo no chão, deixando expostas as negras asas que ficavam por baixo dela. Naquele mesmo instante, Herus foi levado para o Vale das Sombras pelas criaturas da escuridão, deixando no chão para sua amada apenas uma rosa vermelha, não mais em botão. Sara seguiu para seu quarto escuro, e quando lá chegou, o espelho que ganhou de presente não mais estava quebrado, permitindo que ela visse seu reflexo perfeito e não mais uma imagem distorcida na escuridão.
E eles não viveram felizes para sempre, mas viveram cada momento de um amor que valeu por toda uma eternidade.
********** FIM **********


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Darkness VIII - Sim, ela tornou-se imortal

Depois do beijo, Sara e Herus ficaram quietos por um tempo. Qualquer coisa que fosse dita poderia quebrar o encanto daquele belo momento. Havia muita coisa implícita no ar, mas só o que realmente importava era o amor que amadurecia a cada dia no coração dos dois.

As horas já estavam avançadas e a tempestade já tinha acalmado quando se deram conta que precisavam sair dali antes do primeiro raio de sol machucá-los com sua luz. Saíram de mãos dadas rumo ao quarto escuro. Nenhuma palavra era dita por eles, porém Sara ainda tinha muitas dúvidas a respeito das mudanças que vinha sofrendo. Não suportando mais o silêncio angustiante, ela falou:

- Herus, sei que não devo fazer tantas perguntas, mas sinto-me angustiada com todas essas mudanças que venho sofrendo. É estranho, mas sinto que não sou mais humana. Só tu podes me explicar tudo o que está acontecendo. Diga-me a verdade, você me transformou numa vampira? Vou ter que me alimentar de sangue daqui prá frente? Vou ter que fugir das estacas, da água benta e do alho? Vou me decompor na luz do sol?
- Achei que não fosse mais me importunar com suas perguntas, meu amor. Acho que você tem obsessão por vampiros. - disse em meio a risadas.
- Me responde, por favor! O que está acontecendo?

Herus baixou a cabeça e olhou profundamente nos olhos de Sara em seguida. Sabia o quanto ela estava confusa por não ter as respostas que tanto precisava. Decidiu, então, começar a explicar tudo o que estava acontecendo, até porque ela já estava pronta para saber.

- Meu amor, durante toda sua vida tenho te acompanhado. Recebi a missão de guardar você, de te proteger do mal. Muito me entristecia seu sofrer, mas eu nada podia fazer antes da hora. Você parecia não se conformar com a vida que era obrigada a ter e pedia todas as noites para morrer.
- Sim, já desejei estar morta muitas vezes.
- Eu sei, querida. Eu estava em todos os lugares que você estava apenas te guardando e te observando, até que um dia me foi dado o consentimento para trazer você para o meu mundo, este mundo que você está vendo agora.
- E você me sequestrou...
- Exatamente. Eu tirei você de lá e te trouxe para cá com o intuito de deixá-la longe de tudo o que a atormentava, tendo assim, tempo para pensar e tomar sua grande decisão.
- Decisão? - Sara perguntou meio confusa.
- Sim, não adiantaria somente trazer você prá cá, afinal, para fazer parte do meu mundo, você teria que ser como eu. Você teria que decidir fazer parte deste mundo, teria que apreciá-lo e, por isso, ficou tantos dias presa.
- Mas depois você me libertou.
- Eu dei a opção de você partir, de voltar para o seu mundo, porém por algum motivo você decidiu ficar.
- É verdade, meu amor. Eu não quis voltar prá minha vida de antes, pois me encontrei plenamente em meio a toda esta escuridão.
- Bom, no momento em que decidiu ficar, o Ser que está acima de mim entendeu como uma renúncia definitiva ao que existia antes e, a partir dali, começou a sua transformação lentamente.

Sara ficou muito assustada com tudo aquilo e perguntou:

- Estou me transformando numa vampira sugadora de sangue?
- Você agora é como eu, imortal. É claro que ainda precisa aprimorar os poderes que aos poucos lhe estão sendo concedidos, mas isso se aperfeiçoará com o tempo. Não se preocupe, querida, agora você terá toda uma eternidade para isso. Só peço para que não me pergunte tantas vezes se sou ou não um vampiro ou se você está se transformando numa. Este assunto está ficando chato demais para o meu gosto.

Herus desapareceu em seguida. Sara foi caindo lentamente no chão, parecendo não acreditar em tudo o que acabara de ouvir.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Darkness VII - O Beijo na Tempestade

As transformações que Sara vinha sofrendo eram nítidas, mas o que estaria a tornando uma imortal? Esta era a pergunta que não saía de sua cabeça. Era fato que ela estava mais forte e com os sentidos bem mais aguçados. Seus olhos queimavam e não eram capazes de suportar um facho de luz sequer. Não sabia ao certo quanto tempo estava ali, mas sabia que fazia muito tempo. Seus cabelos e unhas tinham crescido bastante, porém não havia nenhum sinal de envelhecimento. Sua face estava mais pálida e sua temperatura corporal estava bem mais baixa. Ela estava radiante, feliz.

Herus a visitava todos os dias, sendo que, na maioria das vezes ela estava dormindo. Por um lado ele até achava melhor, afinal, desta forma jamais seria importunado com tantas perguntas. Ele sabia que ela já não mais precisava dormir, mas aquele repouso poderia fazer bem na sua iniciação.

Em uma noite tempestuosa em que raios e trovões pareciam rasgar o céu, Sara recebeu a visita do seu amado. Desta vez, ela estava acordada adorando ouvir o som da tempestade.

- Venha comigo, querida. Vamos sair pela floresta para apreciar mais de perto este espetáculo.
- Será um prazer, querido.

E saíram os dois pela floresta totalmente despreocupados. Pareciam estar fortemente ligados por uma força sobrenatural, mágica. Sara não mais fazia perguntas, queria apenas aproveitar cada segundo ao lado do seu amor. A cada relampejar, ela podia ver rapidamente o rosto daquele que arrebatara seu coração. Sentia um pouco de dor nos olhos por causa da claridade dos relâmpagos, mas parecia não se importar.

Depois de algum tempo sob a tempestade, refugiaram-se debaixo de uma velha árvore e beijaram-se vorazmente, dando início a algo que, embora não tivesse como ser explicado, era sentido e apreciado por ambos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Darkness VI - Ainda mortal?

Quando acordou, Sara já estava novamente no quarto. Lembrava-se vagamente que tinha saído pela floresta a procura de Herus, porém não sabia que havia sido beijada por ele enquanto dormia. Embora não tivesse idéia de como tinha voltado, pôde sentir algo estranho dentro de si. Sua pele estava gelada e seu coração batia de maneira descompassada. Sentia um gosto estranho nos lábios, mas não sabia identificar o que era. Percebeu que há tempos não se alimentava, porém também não sentia fome. A única necessidade que sentia era a de estar junto daquele que, aos poucos, conquistou seu coração, aquele que a fez mergulhar na escuridão prá descobrir o verdadeiro sentido de tudo. Já não sentia fraqueza, nem dores.

No silêncio, eis que ele apareceu na escuridão com sua capa preta. O coração de Sara bateu mais forte ainda, parecendo saltar pela boca. Era nítido o amor naquele momento e, por impulso, ela o abraçou. Ele, por sua vez, retribuiu o abraço docemente.

- Não deveria sair pela floresta sozinha à noite, minha querida. Ela está cheia de criaturas que podem machucar você.
- Eu estava a sua procura, senti sua falta e não tive medo de sair.
- O medo às vezes é necessário, mas orgulho-me da sua coragem.
- Foi você que me trouxe de volta? Acho que eu não saberia voltar sozinha. Andei demais e acabei adormecendo.
- O importante é que você está aqui em segurança.
- É impressionante como suas respostas são complicadas. Basta responder sim ou não, mas você insiste em complicar. Os vampiros são sempre assim? - Sara falou meio irritada.
- Em primeiro lugar, nunca te disse que sou um vampiro e, em segundo lugar, não tenho o dever de responder suas perguntas que são muito incovenientes por sinal. Se quiser compartilhar sua vida ou sua morte comigo, terá que controlar sua curiosidade.
- Você nunca disse ser um vampiro, mas também nunca negou. Se bem que eu já vi seu reflexo naquele espelho quebrado e, pelo que me consta, a imagem dos vampiros não é refletida nos espelhos. Mas humano eu sei que você não é.

Um riso sarcástico tomou conta do lugar. Sara sentiu-se envergonhada e Herus disse:

- Devo desconsiderar estas palavras, pobre mortal, para o seu próprio bem. E, por falar em mortalidade, achas realmente que ainda és mortal? Não tens sentido-se diferente? Qualquer mortal estaria literalmente morto depois de tantos dias sem comer ou beber, minha querida.

Sara admitiu que ele tinha razão e já não estava tão certa se ainda fazia parte do mundo dos mortais.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Darkness V - Saindo pela floresta sombria


Se havia semelhança ou não entre Herus e o Deus da mitologia grega, Sara não sabia ao certo, mas de uma coisa ela tinha certeza, havia amor naquilo tudo. Um estranho amor estava nascendo em seu coração, capaz de mudar até mesmo o que poderia parecer imutável.

A noite ia caindo e ela mais uma vez sentia a falta daquele que, de uma forma especial, vinha mudando sua vida. Sentiu a saudade apertar-lhe o peito e, não querendo mais permanecer inerte naquele quarto, decidiu sair a procurá-lo. Era a primeira vez que saía do quarto depois de todo aquele tempo. Respirou fundo e saiu pela floresta coberta pela névoa. Admirou a lua majestosa quase totalmente escondida por toda aquela neblina. Sentiu um frio na espinha, mas continuou procurando por Herus.

Quanto mais ela andava por entre as árvores, menos conseguia enxergar. Ela o chamava, mas só ouvia os ruídos noturnos da floresta. Ouvia passos, mas não o encontrava. Mal sabia que, escondido pelas sombras, lá estava ele, guardando-a. Não queria aparecer, queria apenas vê-la misturada ao ar sombrio da floresta. Gostava de observá-la e de ouvir sua voz soando como música ao chamar seu nome. Se a encontrasse naquele momento, toda aquela magia seria interrompida por perguntas que só os mortais insistem em fazer nas horas mais impróprias. Decidiu, então, continuar seguindo sua amada pelas sombras.

Depois de muito caminhar sem sucesso, Sara sentou-se no chão, adormecendo em seguida quase que por encantamento e, não contente em apenas ver aquela cena, Herus chegou bem perto e lhe deu um beijo delicado nos lábios. Em seguida, deitou ao lado dela.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A bElEzA dO mIsTéRiO


Darkness IV - Herus... Eros

A porta parecia chamar Sara, mas algo a prendia dentro daquele quarto. Algo que não era físico, material, mas que era capaz de prender sua alma, seus sentimentos, sua vida. Já não era a mesma Sara de antes, pois sentia uma força quase sobrenatural e, por alguns instantes, chegava a se sentir capaz de mudar qualquer circunstância adversa. Sentia um estranho poder em suas mãos, mas ainda não sabia muito bem como colocá-lo em prática. Aquele tempo em que esteve ali dentro sozinha tinha feito com que ela descobrisse um alguém guardado timidamente dentro da sua alma, mas que estava pronto prá sair, desabrochar. Observou a porta destrancada durante horas, sabia que estava livre de alguma forma, porém o que lhe aprisionava era muito mais forte e intenso.

Um nome martelava insistentemente na sua cabeça: Herus. O misterioso Ser das Trevas agora tinha um nome, um belo nome por sinal. Ela o repetia em voz alta várias vezes e, embora não soubesse ao certo sua grafia, lembrou-se da história do Deus Eros da mitologia grega, o mais belo dos imortais, o Deus do amor. Teria, entre os dois, alguma semelhança?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pecado



Até onde viver é pecado?
O que é, de fato, bom?
O que é, de fato, mau?
Quem de nós neste mundo
É um ser humano exemplar?
Quem de nós está pronto prá julgar?
Quem é capaz de se olhar no espelho
E ver o reflexo límpido da perfeição?
Quem sempre trilhou caminhos de luz
Sem antes ter tido que passar pela escuridão?


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Darkness III - Muito Prazer, Herus

Já fazia alguns dias que Sara não recebia a visita do Ser das Trevas (como ela mesma costumava se referir ao seu sequestrador), porém suas refeições estavam sempre perto da porta, acompanhadas por uma rosa em botão. Era estranho, mas ela sentia falta dele e, o objetivo de estar presa naquele lugar para pensar na vida estava sendo alcançado pouco a pouco. Pensava em tudo o que podia pensar... e no que não podia também. Se perguntava por que ele não dava mais sinal de vida (se é que havia alguma vida naquilo). Percebeu que gostava da presença dele, de sua imagem na escuridão. Embora não soubesse explicar, o queria muito por perto.

A pobre moça tinha vontade de sair daquele quarto, mas já não tinha certeza se queria voltar prá sua vida de antes. Finalmente ela passou a enxergar a escuridão de uma forma diferente e, por que não dizer, sensual. Sentia-se plena na solidão e não debatia-se mais desesperada na cama. Foi aprendendo a ter calma, a gostar de tudo aquilo.

Certo dia, enquanto Sara fazia a única coisa que lhe cabia naquela condição, que era pensar na vida, o Ser das Trevas apareceu em sua frente, como num espetáculo de mágica.

- Assustei você, querida? - perguntou.
- Faz tempo que não me assusto com coisa alguma. Por que não apareceu mais?
- Hummm... Vejo que sentiu minha falta e isso é bom. Na verdade imaginei que você tivesse partido depois daquela nossa conversa.
- Partido? Você só pode estar brincando comigo!!! Como eu poderia partir se a porta estava trancada?
- Engano seu, meu amor. A porta estava aberta desde aquele dia. Você estava livre desde então para voltar para sua vidinha de sempre.
- Não acredito!
- Sim, pode acreditar. Você está livre.
- Mas se você achou que eu tivesse ido embora, por que deixava minhas refeições perto da porta?
- Eu não deixava, meu amor. Parei de servir também desde aquele dia. O que você via era o reflexo do que sentia falta. Neste caso, essas refeições simbolizavam ternura, afeto.
- Você está querendo dizer que a comida, a bebida e a rosa só existiam no meu pensamento?
- Exatamente. Eram como miragem, mas eu cuidei para que não ficasse com fome durante esse tempo.

Sara sentou-se na cama parecendo não acreditar no que estava acontecendo. Sentiu-se muito confusa e perguntou:

- Qual o seu nome? Pelo menos isso eu preciso saber.
- Muito prazer, Herus. - respondeu estendendo uma das mãos.
- Você é um vampiro?
- Vocês mortais são engraçados. Não podem ver nada fora do comum que logo acham que trata-se de vampiros, fantasmas... - disse dando risadas.
- Então mostre-me seu rosto, saia dessa escuridão pelo menos para que eu possa te ver melhor.
- Calma, querida... Tudo tem que ser feito no tempo certo. Agora tenho que ir. Ah! Antes que eu me esqueça... se quiser partir, a porta continuará aberta.

Herus desapareceu em seguida. Sara olhou para a porta e, por um momento, teve medo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Delírios febris


O corpo quente
A boca seca
A visão turva
A respiração difícil
A cabeça embaralhada, dolorida...
Está uns 40° aqui
E eu só vejo um abismo
Me chamando...
Vem... vem...
Vem conhecer meus mistérios...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Darkness II - O primeiro diálogo


Sara ficou durante alguns minutos olhando para o espelho e, quanto mais ela fixava o olhar, mais distorcida ficava sua imagem refletida. Parecia estar num estado de transe, hipnotizada.
Ainda com os olhos mergulhados no espelho quebrado, pôde ver a estranha criatura das trevas aparecer por trás dela. Estava escuro, mas ainda assim conseguia vê-lo. Não sentiu medo, nem algo do tipo, queria apenas saber o porquê de estar ali. Antes dela perguntar qualquer coisa, a criatura falou com a voz imponente:
- Você sabe quanto tempo está aqui, moça?
- Não faço idéia. - Sara respondeu olhando prá ele.
- Eu imaginei que não soubesse, mas o grande mistério não é a quantidade de dias que está enclausurada, mas o motivo pelo qual está presa aqui.
- Eu não sei quem você é, mas quero saber por que me sequestrou, afinal, você não tinha o direito de me roubar da minha vida, da minha família, dos meus amigos e do meu namorado.
- Francamente, menina!!! Que vida? Que família? Que amigos? E que namorado? - falou usando um tom meio sarcástico.
- Não gostei do seu tom. Diga-me logo com todas as letras que tipo de criatura você é e o que quer comigo.
- Sabe, às vezes tenho pena dos mortais. Vocês querem sempre respostas prá tudo, mas acontece que as respostas estão dentro de vocês o tempo todo e, mesmo assim, vocês só enxergam o que querem enxergar. Antes de ser trazida para este lugar, a sua vida era uma mentira. Ninguém nunca conseguiu te entender, não é verdade? Seus falsos amigos só se aproximavam prá tirar algum tipo de vantagem. A pessoa que você chama de namorado nunca te amou de verdade e, embora não queira admitir, você sabe muito bem disso. E sua família? Nunca vi entre os mortais tamanha frieza. Você está aqui há apenas três meses e eles já desistiram de te procurar. Agora diga-me, querida, quer realmente voltar?
Sara sentiu uma tristeza enorme ao ouvir estas duras palavras, e disse num tom desanimado:
- Como você sabe disso tudo? Qual o sentido de toda esta loucura?
- Minha querida, eu sempre sei de tudo o que preciso saber e estou em todos os lugares em que preciso estar. Acompanhei você durante muito tempo, senti seu sofrer, vi cada lágrima que rolou por tua face. Quando você estava sozinha achando que o mundo tinha te abandonado, eu estava nas sombras te observando.
- Quem é você? Um fantasma? Um vampiro? Por que me trouxe aqui? Por que não permite que eu veja claramente seu rosto? - perguntou angustiada.
- Você faz muitas perguntas, mas uma delas vou responder. O motivo pelo qual eu te trouxe aqui é óbvio. Eu queria que você pensasse na sua vida, o que não seria possível na sua casa, com toda aquela gente. Você precisava estar literalmente só, na escuridão. Só assim, meu amor, você se encontraria.
Depois de pronunciar estas palavras, o ser das trevas desapareceu na escuridão. Sara estava achando tudo muito estranho, mas começava a entender o verdadeiro motivo de estar ali.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Negras rosas

Mundos encantados, perdidos
Olhos que queimam
Corações partidos
Amores que nos matam
E não morrem
Lágrimas de sangue
Que pelo rosto escorrem
Verdades insanas, dolorosas
Misteriosas, estranhas
Como as negras rosas...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Darkness - O quarto escuro


Ouviu-se um grito de horrror dentro do quarto escuro. A pobre Sara contorcia-se numa cama, angustiada. Não fazia idéia de quanto tempo já estava naquele lugar. Só lembrava-se vagamente do vulto entre as sombras saltando dos arbustos na noite em que sua vida fora roubada. Vida? Se é que aquilo poderia ser chamado de vida. - pensava.
Já não mais fazia distinção entre dia e noite. Ficava ali sozinha na escuridão, tendo como única companhia um espelho quebrado que a estranha criatura lhe presenteou quando a sequestrou.
Ele a visitava todos os dias, levando alimento e água, sempre numa bandeja com uma rosa vermelha, ainda em botão. Não dizia uma palavra sequer, apenas aparecia na escuridão sem mesmo precisar abrir a porta. Ela não conseguia vê-lo claramente, apenas uma capa preta nas trevas. Se perguntava todos os dias o que aquele ser estranho poderia querer com ela, afinal, sua família não era rica e não teria como pagar nenhum resgate.
Apesar de ficar enclausurada num quarto escuro, não sofria maus tratos. Seu único sofrimento era a solidão angustiante que lhe apertava o peito. Não tinha raiva daquela criatura, sentia até uma certa afeição por ela, afinal, em vinte e cinco anos de vida nunca tinha recebido suas refeições com tanto carinho e cuidado.
Certo dia, após despertar de um sono profundo, Sara resolveu olhar seu rosto pela primeira vez no espelho quebrado. O que via era apenas uma imagem distorcida de uma face não muito atraente. A escuridão disfarçava suas imperfeições e, por isso, apreciou não estar na claridade.
E a criatura enigmática a observava discretamente...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Noites de Mistério


Noites frias trazem a brisa das lembranças que nem sempre queremos lembrar.

O vazio insistente no peito e a saudade do que nem chegamos a viver

nos consomem pouco a pouco.

As lágrimas contidas desfiguram uma alma cheia de mistérios.

Não há distinção entre o bem e o mal

E o sofrer traz uma estranha sensação de prazer.

O sangue ferve nas veias,

a respiração ofegante transforma-se num som enlouquecedor.

Não há como fugir do monstro que existe dentro de cada um de nós,

das sensações mais estranhas e dos pensamentos mais traiçoeiros.

Porém, as noites não serão eternas

e o amanhecer trará uma estranha normalidade.

E, nesta pseudo-sensação de que somos meros mortais,

o que nos acalenta é saber que a luz do sol logo se esconderá novamente...

e celebraremos outro anoitecer...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A Beleza do Mistério

Existe uma beleza especial no mistério, naquilo que não está explícito aos nossos pobres olhos carnais. Esta beleza está nos sentidos mais intensos, nas emoções mais íntimas, no subjetivo, no abismo de nosso imaginário.
Ao fechar os olhos neste exato momento, nada poderemos enxergar, porém depois de alguns segundos, poderemos "ver" o que está dentro de nós, em nosso íntimo, em nossa alma. Poderemos sentir o calor e o frio de uma forma mais intensa, fascinante e, até mesmo, sobrenatural.
O mistério é rodeado de encantos e sensualidade. Na sua obscuridade ele é sombrio e fascinante e, o poder de descobrir, explorar e sentir esta magia, é inimaginável.
Desvendar os mistérios de um olhar revela a nudez da alma e, se algum mortal conseguir esta proeza, apegue-se a ele para sempre.