sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Darkness - O quarto escuro


Ouviu-se um grito de horrror dentro do quarto escuro. A pobre Sara contorcia-se numa cama, angustiada. Não fazia idéia de quanto tempo já estava naquele lugar. Só lembrava-se vagamente do vulto entre as sombras saltando dos arbustos na noite em que sua vida fora roubada. Vida? Se é que aquilo poderia ser chamado de vida. - pensava.
Já não mais fazia distinção entre dia e noite. Ficava ali sozinha na escuridão, tendo como única companhia um espelho quebrado que a estranha criatura lhe presenteou quando a sequestrou.
Ele a visitava todos os dias, levando alimento e água, sempre numa bandeja com uma rosa vermelha, ainda em botão. Não dizia uma palavra sequer, apenas aparecia na escuridão sem mesmo precisar abrir a porta. Ela não conseguia vê-lo claramente, apenas uma capa preta nas trevas. Se perguntava todos os dias o que aquele ser estranho poderia querer com ela, afinal, sua família não era rica e não teria como pagar nenhum resgate.
Apesar de ficar enclausurada num quarto escuro, não sofria maus tratos. Seu único sofrimento era a solidão angustiante que lhe apertava o peito. Não tinha raiva daquela criatura, sentia até uma certa afeição por ela, afinal, em vinte e cinco anos de vida nunca tinha recebido suas refeições com tanto carinho e cuidado.
Certo dia, após despertar de um sono profundo, Sara resolveu olhar seu rosto pela primeira vez no espelho quebrado. O que via era apenas uma imagem distorcida de uma face não muito atraente. A escuridão disfarçava suas imperfeições e, por isso, apreciou não estar na claridade.
E a criatura enigmática a observava discretamente...

Um comentário:

  1. No plastico sudário esvaente da lua -,
    Que cobriu tanto Amor agora inanimado -,
    Difundida na luz, somnambula, fluctua,
    A Forma espectral, que ainda se insinua,
    Dos amantes, que viu, nas noites do Passado.

    A lembrança do Mar, em segredos nublados,
    Treme na evocação de antigos desvarios:
    A Onda, em vincos, tem mascaras de affogados,
    Esfolões de afflicção de braços desvairados,
    E boiam-lhe, na scisma, Espectros de navios.

    Sabe quens sou eu..^^ adorei o blog

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