quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Darkness III - Muito Prazer, Herus

Já fazia alguns dias que Sara não recebia a visita do Ser das Trevas (como ela mesma costumava se referir ao seu sequestrador), porém suas refeições estavam sempre perto da porta, acompanhadas por uma rosa em botão. Era estranho, mas ela sentia falta dele e, o objetivo de estar presa naquele lugar para pensar na vida estava sendo alcançado pouco a pouco. Pensava em tudo o que podia pensar... e no que não podia também. Se perguntava por que ele não dava mais sinal de vida (se é que havia alguma vida naquilo). Percebeu que gostava da presença dele, de sua imagem na escuridão. Embora não soubesse explicar, o queria muito por perto.

A pobre moça tinha vontade de sair daquele quarto, mas já não tinha certeza se queria voltar prá sua vida de antes. Finalmente ela passou a enxergar a escuridão de uma forma diferente e, por que não dizer, sensual. Sentia-se plena na solidão e não debatia-se mais desesperada na cama. Foi aprendendo a ter calma, a gostar de tudo aquilo.

Certo dia, enquanto Sara fazia a única coisa que lhe cabia naquela condição, que era pensar na vida, o Ser das Trevas apareceu em sua frente, como num espetáculo de mágica.

- Assustei você, querida? - perguntou.
- Faz tempo que não me assusto com coisa alguma. Por que não apareceu mais?
- Hummm... Vejo que sentiu minha falta e isso é bom. Na verdade imaginei que você tivesse partido depois daquela nossa conversa.
- Partido? Você só pode estar brincando comigo!!! Como eu poderia partir se a porta estava trancada?
- Engano seu, meu amor. A porta estava aberta desde aquele dia. Você estava livre desde então para voltar para sua vidinha de sempre.
- Não acredito!
- Sim, pode acreditar. Você está livre.
- Mas se você achou que eu tivesse ido embora, por que deixava minhas refeições perto da porta?
- Eu não deixava, meu amor. Parei de servir também desde aquele dia. O que você via era o reflexo do que sentia falta. Neste caso, essas refeições simbolizavam ternura, afeto.
- Você está querendo dizer que a comida, a bebida e a rosa só existiam no meu pensamento?
- Exatamente. Eram como miragem, mas eu cuidei para que não ficasse com fome durante esse tempo.

Sara sentou-se na cama parecendo não acreditar no que estava acontecendo. Sentiu-se muito confusa e perguntou:

- Qual o seu nome? Pelo menos isso eu preciso saber.
- Muito prazer, Herus. - respondeu estendendo uma das mãos.
- Você é um vampiro?
- Vocês mortais são engraçados. Não podem ver nada fora do comum que logo acham que trata-se de vampiros, fantasmas... - disse dando risadas.
- Então mostre-me seu rosto, saia dessa escuridão pelo menos para que eu possa te ver melhor.
- Calma, querida... Tudo tem que ser feito no tempo certo. Agora tenho que ir. Ah! Antes que eu me esqueça... se quiser partir, a porta continuará aberta.

Herus desapareceu em seguida. Sara olhou para a porta e, por um momento, teve medo.

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